O
narcisismo e a vaidade humana
Por Fabiane Corrêa Monteiro
Quando Narciso, um
jovem arrogante de beleza ímpar que vivia a desprezar seus pretendentes, viu a
própria imagem refletida em uma lagoa, apaixonou-se de tal modo por si mesmo
que todas as versões que conhecemos desta história apresentam um desfecho trágico:
ou Narciso morre afogado, atirando-se na água, ou morre aos poucos, sem
conseguir se afastar do local. Relacionado a este mito está o termo utilizado
para designar o amor excessivo que algumas pessoas desenvolvem por si mesmas, o
narcisismo, sem dúvida a raiz de muitos dos problemas que temos enfrentado
ultimamente, em nossas relações interpessoais.

Narciso por Caravaggio
Mas em que momento o
narcisismo passou a interferir em nossas vidas de maneira tão nociva? Quando
passou a contribuir de modo crucial para a falta de empatia em relação ao
próximo. Isso porque o narcisista é um ser fechado, voltado para si mesmo, que
vive para atender às suas próprias necessidades. Tem dificuldade para perceber o
outro e, como consequência disso, não consegue perceber que as outras pessoas
também têm as suas necessidades. Devemos ao narcisismo o apego exagerado que
muitas pessoas têm pelos seus bens materiais, comprando tudo que possa de
alguma forma lhes conferir status: ter dinheiro coloca-as em destaque, em um
patamar superior. Devemos também ao narcisismo a preocupação exagerada que
muitas pessoas têm com a sua própria imagem, frequentando academias, submetendo-se
a regimes: ter um corpo perfeito, de acordo com os padrões de beleza impostos
pela sociedade, também as coloca em uma posição de destaque. A vaidade humana é
a explicação mais plausível para que tenhamos nos tornado seres tão
narcisistas, pois dela vem essa necessidade maldita que temos de estarmos
sempre acima dos demais.
Dizem que, quando
informado da morte de Augusto dos Anjos, Olavo Bilac teria perguntado quem era
o rapaz. “Um grande poeta”, responderam a ele, e leram um de seus poemas, ao
que Olavo Bilac teria sorrido com ar de superioridade, dizendo “Fez bem em
morrer, não se perde grande coisa”. A postura arrogante do poeta parnasiano em
relação à obra de Augusto dos Anjos talvez tenha uma explicação: o primeiro já
gozava de prestígio, e julgava-se acima dos demais, enquanto o segundo ainda
poucos conheciam, e só teria o merecido reconhecimento algum tempo depois de
sua morte. A vaidade de Olavo Bilac impediu que identificasse em versos tão
diferentes dos seus o talento de Augusto dos Anjos. O narcisista ama apenas
aquilo que lhe parece a própria imagem diante do espelho.
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