Para sempre Alice
Por Fabiane Corrêa Monteiro
Mãe e filha em cena do filme Para sempre Alice
"Vi um filme muito chato ontem, muito parado", disse-me um menino, esses dias, sobre o filme Para sempre Alice, que conta a história de uma Doutora em Linguística que descobre aos 50 anos ter o Mal de Alzheimer.
Como não tinha visto ainda, nada falei. Agora que vi, acho que entendi o porquê da avaliação do menino: é SÓ a história de uma pessoa que vai perdendo a memória e, consequentemente, a identidade; é SÓ a história da barra que é para uma família ver uma pessoa muito amada deteriorar-se fisicamente e intelectualmente. Sabem o que faltou ao menino, para que sentisse o filme como eu senti? Empatia, identificação.
Tenho um caso em minha família, meu pai, que tem uma demência muito semelhante ao Alzheimer. Em muitas cenas do filme eu o vi. Alice se esquece de algo que ouviu há um minuto, mas se lembra com perfeição da mãe e da irmã, que morreram quando ela tinha apenas 18 anos; o meu pai conta mil vezes as mesmas histórias de sua juventude, e pessoas que já morreram há anos ressurgem como se ainda estivessem vivas. Há uma cena em que Alice não encontra o banheiro de sua própria casa, e urina nas calças; algo parecido aconteceu dia desses com meu pai. Uma das filhas, na última cena, diz um trecho de uma peça à mãe e pergunta a ela o que conseguiu entender; Alice, com muita dificuldade, consegue condensar o que ouviu em uma única palavra, Amor; já não consigo estabelecer qualquer diálogo com o meu pai (a não ser que eu pergunte a ele a respeito de algo do passado). Alice é meio agressiva, às vezes; o meu pai também. Para dar uma palestra, Alice tem que marcar as linhas que está lendo para não lê-las novamente; meu pai já não consegue mais assinar o próprio nome.
Entendo que o menino não tenha gostado muito do filme... É a vida como realmente é, nem sempre justa, nem sempre feliz. E quando quem está assistindo ao filme ainda por cima não consegue estabelecer qualquer vínculo com a história...
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