Ela

Por Fabiane Corrêa Monteiro

Assisti novamente a um destes filmes que nos deixam com um nó na garganta, porque inevitavelmente remetem a lembranças sofridas, de rejeição e tristeza, comuns a todos nós: Ela, de Spike Jonze. 


Neste longa, um homem  chamado Theodore (Joaquin Phoenix) vive o luto de um relacionamento recentemente rompido, com todos os esforços que isso tende a nos exigir, como adaptar-se novamente à solidão e calar sentimentos que ainda existem - e resistem. Nesse meio tempo, interações com um sistema operacional, a Samantha (Scarlett Johansson), tornam-se frequentes e se intensificam, como se preenchessem um grande vazio, o vazio que a ex-esposa (Rooney Mara) havia deixado ao partir. Apaixonam-se (por mais estranho que isso possa lhes parecer), e o romance entre os dois ocorre naturalmente, até que CONTÉM SPOILER o protagonista descobre ser apenas um entre mais de mil usuários atendidos pela “moça”, dentre eles, alguns por quem também estava “apaixonada”: nosso protagonista torna a ter seu coração partido, mas entende que não poderá dela exigir exclusividade, já que não passava de um sistema operacional. 


Joaquin Phoenix em Ela, no papel de Theodore

O namoro, que já havia contribuído para que enfim publicasse as cartas que escrevia, e assinasse os papéis do divórcio, encerra-se quando os sistemas operacionais comunicam a seus usuários que deixarão de funcionar - talvez uma crítica aqui à “obsolescência programada” dos atuais relacionamentos, todos fadados ao fracasso nestes tempos de amores líquidos e extremamente artificiais. Nesse momento, um ponto de virada semelhante ao que ocorre na vida de todos que já tiveram um rompimento doloroso se dá, transfigurado naquela que seria a mais bela das cartas que Theodore já havia escrito: a carta de despedida a sua ex-esposa, aquele momento em que aceitamos a necessidade de deixar o outro partir apesar de tudo o que vivemos e justamente por tudo que vivemos, aquele momento em que a beleza do que vivemos torna-se maior que qualquer outra coisa e todo o rancor que sentíamos dá lugar a um grande sentimento de gratidão. 


Como pode uma distopia dizer tanto sobre nós? Não escrevi uma carta, como Theodore; no entanto, quando precisei dar fim a um namoro de 7 anos e sofri porque ainda amava aquele que deveria deixar partir, eu escrevi uma mensagem ao ex, uma mensagem dizendo obrigada por tudo, e instantaneamente dez kilos de chumbo deixaram de pesar sobre meu peito.  


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