Brilho eterno
Por Fabiane Corrêa Monteiro
"Como é imensa a felicidade da virgem sem culpa.
Esquecendo o mundo e pelo mundo sendo esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!
Cada prece é aceita, e cada desejo realizado."
Alexander Pope
Existe um lugar dentro de nós em que vivem todas as lembranças que não gostaríamos de ter guardado; um lugar onde, conscientemente ou não, nós as escondemos, porque são dolorosas: trazem culpa ou arrependimento, remetem a traumas e a frustrações. O esconderijo, no entanto, é falho: basta um gatilho para que acessemos essas memórias que em vão, conscientemente ou não, tentamos esconder, e dias ruins ressurgem com se os estivéssemos vivendo novamente. E se a Ciência nos concedesse a possibilidade de apagarmos de nossa memória passagens tão doloridas? E se a Ciência descobrisse um método que nos fizesse esquecer definitivamente as recordações que nos fizessem sofrer?
Em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Joel (Jim Carrey) é um rapaz que acaba de se submeter a um procedimento que havia apagado de sua memória as lembranças que tinha de sua ex-namorada, a Clementine (Kate Winslet), inconformado que ainda estava com o término de seu relacionamento (e com o fato de ela ter se submetido ao mesmo procedimento pouco antes). Nas cenas em que vemos Joel submetendo-se ao experimento, seu fluxo de consciência é que nos conta a história: aquelas memórias ruins de que queria se esquecer, CONTÉM SPOILER e aquelas que lutaria, já tarde demais, para que permanecessem.
O fluxo de consciência, na literatura, é quando o leitor tem acesso ao pensamento dos personagens da narrativa, quase sempre de uma forma desordenada, exatamente da maneira confusa como surgem nossos pensamentos, pois não seguem uma estrutura linear. As lembranças de Joel resgatadas durante o experimento para que em seguida fossem descartadas, principalmente quando em vão ele tenta esconder Clementine naquelas lembranças que não tinham relação com ela, em uma última tentativa de fazer com que sua imagem não desaparecesse por completo, não seguem uma linearidade. Nem mesmo o longa segue uma estrutura linear: sua história, apresentada in media res, parte do ponto em que Joel e Clementine já haviam se submetido ao experimento, CONTÉM SPOILER contrariando todas as expectativas ao conhecerem-se novamente e apaixonarem-se mais uma vez - não há como tirar da cabeça aquele que já habita o coração.
E se a Ciência nos concedesse a possibilidade de apagarmos de nossa memória passagens dolorosas de nossa existência? E se a Ciência descobrisse um método que nos fizesse esquecer definitivamente as recordações que nos fizessem sofrer? Não tenho dúvidas de que jamais me submeteria a algo do tipo, pois as experiências negativas de minha vida é que moldaram meu caráter, fizeram-me ser quem eu sou, e levaram-me a lugares a que de outro modo talvez não teria ido. Somos o resultado de nossas experiências, e mesmo as negativas sempre têm muito a nos ensinar.
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