Edward, mãos de tesoura


Por Fabiane Corrêa Monteiro


Quando a chamada anunciou que naquela segunda-feira veríamos um filme inédito e a imagem de um ser muito estranho, que tinha tesouras no lugar de suas mãos, pela primeira vez surgiu diante de nossos olhos, lembro que eu e meu irmão não conseguimos acreditar que a Globo havia resolvido dedicar um espaço de sua programação para um filme aparentemente tão tolo. Estávamos nos anos 90, e aguardávamos ansiosamente pelos filmes que a TV aberta transmitiria - faltava muito ainda para que eu me tornasse frequentadora assídua de cinemas e locadoras, mais ainda para que plataformas digitais permitissem que de minha própria casa  escolhesse os filmes que bem entendesse para assistir. 


A primeira chamada de Edward, mãos de tesoura  (de 1993) 

Mal sabíamos nós que a chamada do tipo “as loucas aventuras de um diferentão” nada dizia acerca do tema que verdadeiramente encontraríamos no filme escolhido para a ocasião, Edward, mãos de tesoura, a obra-prima de Tim Burton: esperei por um filme sem sentido, e o que encontrei foi um longa carregado de tantos significados que o amei do início ao fim. Ele conta a história de Edward (Johnny Depp), um homem criado em laboratório por um inventor (Vincent Price) que nunca concluiria sua grande obra: morreria antes, quando ainda estavam faltando as mãos da criatura, deixando-a com as tesouras que haviam sido colocadas provisoriamente, e sem qualquer maldade em relação ao mundo que descobriria a seguir; a tentativa frustrada de uma senhora (Dianne Wiest)  por tornar essa criatura parte de uma sociedade incapaz de lidar com as diferenças, incapaz de identificar-se com o sofrimento alheio, é que confere à obra o status de fábula moderna que tem: uma fábula cujo maior ensinamento  talvez tenha sido alertar-nos à crueldade de que somos capazes quando confrontados por quem a nossos padrões de normalidade não tiver correspondido.


Uma chamada mais atual (de 2015),  de abordagem completamente diferente 

Quase trinta anos depois, não por acaso fiz de seu possível diálogo com Frankenstein, a obra-prima de Mary Shelley, o tema do artigo de conclusão de minha pós-graduação; quase trinta anos depois, e ainda me pego a chorar quando chego ao final deste filme e vejo Edward tendo de abdicar de seu grande amor (Winona Ryder) para isolar-se novamente e viver em paz.


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